A obesidade tem sido apontada como uma das causas de morbidade e mortalidade devido à forte associação com diversos fatores de risco à saúde, como por exemplo diabetes, hipertensão e hiperlipidemia, resultando em um aumento indireto no custo de saúde com o tratamento da obesidade.
Atualmente o tratamento da obesidade inclui várias abordagens, como modificações no estilo de vida, terapia nutricional comportamental e medicamentos. A farmacoterapia pode promover uma perda de peso modesta quando associada a modificações no estilo de vida no grupo que apresenta estar com sobrepeso ou moderadamente obeso. No entanto, a recuperação de peso permanece alta. No grupo de obesos graves, no entanto, essas intervenções isoladas ou combinadas, na maioria das vezes não alcançam os efeitos da perda de peso desejados. Nesses casos a cirurgia bariátrica parece ser a principal estratégia de sucesso para induzir perda de peso substancial e durável no grupo de obesos graves e é recomendada em indivíduos com IMC ≥40 kg / m2 ou IMC de 35-40 com comorbidades relacionadas à obesidade.
Nessa coorte, foi comprovado que procedimentos cirúrgicos melhoraram as comorbidades relacionadas à obesidade, queda nos custos, no uso de medicamentos e na mortalidade. Essas vantagens fizeram com que a cirurgia bariátrica se tornasse a segunda cirurgia abdominal mais comum nos Estados Unidos. Apesar das vantagens, a prevalência de complicações pós cirúrgicas é elevada. Algumas evidências mostraram que as complicações podem ocorrer em até 7-15% dos pacientes, variando com base no tipo de procedimento realizado. Entretanto, a maioria das complicações podem rapidamente se traduzir em deficiência em micronutrientes e desnutrição, especialmente em casos da ingestão oral limitada, uma vez que pacientes obesos tendem a ser predispostos à deficiência de micronutrientes e desnutrição mesmo antes da cirurgia devido à dieta obesogênica ser calórica densa, mas desprovida de nutrientes. Diante desse cenário, é importante que os profissionais de suporte nutricional tenham um melhor entendimento das complicações que requerem o uso de suporte nutricional, bem como a melhor técnica para fornecimento de nutrição, incluindo sua eficácia e complicações associadas.
Foi realizada uma revisão retrospectiva completa em banco de dados de Nutrição Enteral Doméstica (HEN). O banco de dados foi revisado para pacientes submetidos a um procedimento cirúrgico bariátrico e que receberam pelo menos uma semana de alimentação por sonda em casa devido a complicações relacionadas à cirurgia. Foram incluídos na amostra pacientes maiores de 18 anos. As variáveis básicas de interesse incluíram dados demográficos e antropométricos, como idade de início da HEN, tipo de cirurgia bariátrica, sexo, peso e índice de massa corporal (IMC).
De acordo com o protocolo do estudo, as variáveis de interesse em relação à HEN incluem uma indicação para o início da alimentação por sonda, regime de alimentação por sonda (inclui dados do tubo e da fórmula), duração e razão para o término da HEN, deficiências de vitaminas e micronutrientes, complicações da HEN e acompanhamento relevante dados. Os pacientes que necessitaram de NE foram identificados e avaliados quanto à composição corporal, necessidades nutricionais (determinados pela equação de Harris-Benedict) e acompanhados até que retomem a ingestão oral ou transição para NP.
A HEN é uma abordagem viável para fornecer nutrição no cenário de desnutrição decorrente de complicações pós-bariátricas. Essa informação é relevante porque o aumento contínuo da prevalência de obesidade tem levado a um aumento do número de cirurgias bariátricas realizadas por ano. Entretanto, apesar dos avanços nas técnicas cirúrgicas, complicações continuam a surgir, colocando os pacientes em risco de desenvolver desnutrição. Neste estudo, os dados revelaram que a desnutrição tende a se desenvolver mais de um ano após a cirurgia bariátrica, onde o reconhecimento precoce desse risco é essencial para a prevenção ou intervenção terapêutica precoce como uma indicação para HEN. É importante considerar o suporte nutricional e a forma de NE quando o paciente não consegue suprir suas necessidades nutricionais por via oral e quando o paciente apresenta alteração funcional no trato gastrointestinal. Além disso, a anatomia do corpo foi alterada, devendo ser avaliado e controlado as deficiências de vitaminas e micronutrientes.
Referência Bibliográfica: VELAPATI, S. R. et al. Use of Home Enteral Nutrition in Malnorished Post-Bariatric Surgery Patients. Journal of Parenteral and Enteral Nutrition v. 45, n.5, p. 1023-1031, 2020.
